Quando o único projeto de vida dos pais são os filhos, quando toda a energia deles está voltada às crianças, quando sempre estão exageradamente preocupados com elas, sem que se apercebam disso, acabam transformando-se em “vampiros”.
Como tais, agem no sentido de sugar toda alegria da criança pela vida, pela descoberta, pela iniciativa, pela aventura, que pertence a ela e que faz parte de seu desenvolvimento. Sendo assim, a liberdade necessária na infância fica completamente comprometida.
Essas crianças podem ficar condenadas à preocupação exagerada e ao controle dos pais, que as sentenciarão com a pena de viverem presas diante da vida.
Há crianças que são proibidas de quase tudo: não podem andar descalças; ficar no sereno; tomar gelado; chuva; sol só com boné; devem estar sempre bem agasalhadas; não podem brincar na casa de amigos nem mesmo na de parentes, apesar de convidadas; excursão do Colégio, então, nem pensar; e muitos outros exemplos de restrições podem ser observados na vida dessas crianças.
As reações desses pais são de temor, preocupação e desconfiança. Demonstram esperar pela tragédia. Vivem em alerta!
É lógico que as crianças precisam de cuidados e, muitas vezes, nos causam preocupações. Refiro-me aos exageros, à preocupação desnecessária e ansiosa dos pais. Agem com os filhos como se eles vivessem numa condição diferente. Indefesos ao perigo e incapazes de lidar com as situações, mesmo as mais simples.
Qual será a imagem que uma criança, criada dessa forma, vai aprendendo a fazer de si mesma? De um ser estranho? Diferente dos outros? Frágil?
Filhos de pais extremamente preocupados costumam desenvolver sentimento de inferioridade e de insegurança. Podem entender que algo de errado existe com eles. Certamente, observam o modo de os outros pais agirem e notam que nem todos demonstram tanto medo de deixarem os filhos viver com mais liberdade.
Demonstrar amor aos filhos é estar atento ao que eles precisam. É ter a sensibilidade de identificar quando é necessário estar por perto e quando é preciso “saírem um pouco de cena”, para que, gradualmente, eles tenham a oportunidade de aprender a existir, também, na ausência dos pais.
É saudável que os pais questionem como têm direcionado a sua energia. Como têm administrado a própria vida, no sentido mais amplo; como estão a atenção, a dedicação e o relacionamento com esposo (a), filhos, casa, profissão, lazer, ideais…
À medida que os pais distribuem melhor, de maneira mais equilibrada, toda essa atenção, os filhos se beneficiam com isso.Mais leves, não se sentirão como os únicos responsáveis pela felicidade dos pais.
É possível perceber a necessidade de os pais aprenderem a cuidar de si mesmos para que tenham condição de se relacionarem melhor com os filhos.
Um ponto de partida para quem vive muito preocupado em acertar na educação dos filhos é começar a olhar com mais atenção para si.
No exercício de educar, a reflexão é sempre importante: será que meus filhos estão precisando de mim, como penso? Ou sou eu é que preciso deles, uma vez que esqueci como se vive e precisei me misturar na vida deles para sentir que ainda existo?
Será que me transformei num “vampiro”?
Imagem: Pixabay / JosepMonter
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